Lula avança sobre Faria Lima, o condado do capital financeiro
- João da Reconstrução
- 27 de jun. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de jul. de 2022
Sem capitular, ex-presidente aprofunda diálogos com investidores e empresários para retomar agenda de "ganha-ganha", após desilusão com Bolsonaro.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode vencer as eleições já no primeiro turno, garantiu a grandes empresários e investidores que fará um governo com “estabilidade, previsibilidade e crescimento”, que amplie a classe média e o mercado consumidor, e que seu vice Geraldo Alckmin “é a versão moderna da carta ao povo brasileiro”.
O petista defendeu ainda menos impostos, dizendo que “o governo tem de ser leve para o país”, mas não abriu mão da proposta de que o foco do Estado deve ser o pobre e da visão de que “o país será insustentável” se os ricos não pagarem mais.
Conforme o Valor Econômico, Lula participou de três encontros com empresários e investidores nos últimos sete dias. Na lista, pesos pesados como Luis Stuhlberger, gestor do Fundo Verde, Marcelo Kayath, da QMS Capital, e Eduardo Sirotsky Melzer, fundador da EB Capital. O publicitário Nizan Guanaes, um dos mais respeitados do país, afirmou que saiu da tratativa "bem impressionado".
"Farialulers"
Em eventos econômicos recentes, Stuhlberger tem informando que o mercado não vê risco em uma vitória de Lula e que o investidor estrangeiro prefere o petista ao presidente Jair Bolsonaro. Ele, que é um dos maiores gestores de fundos do país, tem destacado que, nos governos Lula, houve responsabilidade fiscal, sustentação da dívida e crescimento.
No entanto, o gestor assinou manifesto pela candidatura de Simone Tebet (MDB), com inexpressiva intenção de voto, o que sugere um movimento de demarcação de posição, sobretudo para que outros agentes econômicos não embarquem, novamente, na aventura extremista. Tebet sinalizou que deve apoiar Lula em um segundo turno contra Bolsonaro.
Em janeiro deste ano, a entrevista de Lula aos “sites independentes” gerou um “farialuler day”, marco a partir do qual o mercado dispersou boa parte dos temores que tinha quanto à candidatura do ex-presidente.
A entrevista de Lula foi precificada pelos "farialulers", como são chamados empresários e investidores que simpatizam ou se abrem ao diálogo com o ex-presidente, como um sinal de que ele se compromete com moderação e previsibilidade, duas características que faltam a Bolsonaro, segundo relatou na época o serviço Congresso em Foco Insider.
Nesta sexta-feira, Lula cobrou que os agentes econômicos só pensam em política fiscal, mas não nas condições sociais e questionou o para que querem tanto lucro.
Na margem direita, Bolsonaro aprovou uma reforma constitucional que, para além de desespero e emergência eleitoreira, é mais um ato improvisado, imprevisível e instável para tentar a forçar a barra de um segundo turno.
Contudo, o consenso de mercado hoje é que os dois não representam um risco aos agentes econômicos, o que é, na prática, uma vantagem de Lula, já que os financistas simpatizavam abertamente com o sucesso de Bolsonaro e a derrota do ex-presidente - com quem, ironicamente, nunca ganharam tanto dinheiro e que permitiu à bolsa ter seu melhor desempenho.
Recentemente, Stuhlberger disse que "as ruas", ou seja, para ele a Faria Lima, avaliavam que a disputa era entre um "psicopata" e um "incompetente bem intencionado". Uma ofensa a Lula, mas que, para os pares do investidor é um recado claro: #EleNão , chamando atenção para as preocupações sociais do ex-presidente.
Lula tem prometido ouvir a Faria Lima, junto, claro, com o povo e os trabalhadores, mesmo em temas desagradáveis ao mercado, propõe comissão tripartite para atualizar a legislação trabalhista - para um capitalismo moderno e criativo, não precário e atrasado, e a volta do Conselho do Desenvolvimento Econômico e Social, palco dos grandes acordos pela economia de seus mandatos.
Resta saber agora quem vai de afetos com o supremacismo e quem sabe que nunca foi tão fácil escolher. O mercado externo já lulou e são os chamados "gringos" que mandam na bolsa brasileira.
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